Friday, June 30, 2006

Projecto ll Cais de Miragaia

O programa de projecto do ll ano pedia um conjunto de 4 equipamentos (ou zonas, como preferirem chamar): uma zona comercial, uma zona de restauração, uma sala polivalente e uma residência para 80 estudantes. O terreno de implantação era o parque de estacionamento da Alfândega do Porto. Ou seja: proximidade com o rio Douro reforçando a condição de cais. É uma zona semelhante ao cais de Gaia. (mas Gaia ganha na paisagem do Porto que possui).
O terreno, que nós apelidamos de "bacalhau", é um extenso e comprido cais que vai afunilando à medida que se aproxima da ribeira. Optei por colocar o volume da minha residência nesse estreitamento, o que me libertou bastante para colocar o resto do programa. Para garantir uma maior privacidade, e na medida em que a rua que ladeia o terreno tem um carácter assumidamente público, afastei a residência para reforçar essa ideia e aproximei-a da linha de separação entre o cais e a água.
A sua posição “quase” sobre o rio, ganha formas mais orgânicas adquirindo uma dinâmica semelhante à ondulação serena da água que espelha. Esta complexidade da fachada cria jogos de sombras diferentes ao longo do dia e um movimento aparente perceptível ao longo de percursos pelo rio e Gaia, criando um forte impacto visual.
Para o afastamento da residência em relação à rua, tive de criar uma plataforma artificial que serve de entrada para o terreno. No fim dessa descida encontra-se a sala polivalente caracterizada por uma grande cobertura na entrada que prepara o caminhante tanto na entrada da sala polivalente como para o resto do terreno mais próximo do rio. Ao avançarmos pelo exterior, somos ladeados por uma fileira de árvores que protegem uns bancos, e culmina num café com vistas para todos os lados do terreno. No climax desse percurso e ao contornar o café, abre-se uma praça ao mesmo nível da rua, caracterizada por um anfiteatro com uma parede enorme, podendo ser aproveitada para sessões de cinema ao ar livre, teatros de rua, projecções do Mundial.. etc..
O conceito da sala polivalente surge como o de um corredor, reforçando uma continuidade espacial ao cais. A forma esguia e estreita dá continuidade ao percurso pela plataforma, mas num ambiente totalmente diferente, fechado sobre si mesmo, com rasgos de luz acima dos 4 metros. Tem a particularidade de ter uma rampa interior do lado da rua, que culmina numa zona exterior a 4 metros de altura onde o utilizador pode desfrutar da paisagem e fazer uso dessa mesma cobertura para um evento ao ar livre(pode ser coberta com um toldo se necessário para uma eventual chuva ou tempo agreste). Esta cobertura faz parte da zona do comércio, directamente relacionado com a rua.
A fachada para a rua da sala polivalente possui uma parede cega em toda a sua extensão, podendo ser inteiramente coberta de cartazes, cujo encanto e vivacidade enriquecem extraordinariamente a rua. (Na maqueta coloquei uma possível exposição sobre o filme Código Da vinci).
Como é óbvio, ainda falta o interior da residência que deu muito nó na cabeça só porque não havia espaço para um bidé. Mas são problemas que têm de ser ultrapassados e é isso que dá vontade de continuar e arranjar uma nova solução(ou não... :P )
Independentemente da nota que tenha, adorei fazer este trabalho.. só tenho pena que não possa ser construído.. Quem me dera ter uma praça com cinema ao ar livre! Era fantástico.. AH! a parede alta esconde a entrada do parque de estacionamento subterrâneo.. :)

Sunday, June 11, 2006

Estado do Porto


Como todos sabem, ou deviam saber, a Avenida já está pronta. E eu, passei por lá ontem à noite para ver o panorama.. Sem dúvida alguma que foi "entrar noutra cidade".
Senti que não estava no Porto. O facto dos passeios estarem mais largos e a existência de uma fonte, conferem à cidade um estatuto de "cidade internacional". Foi bom ver a população à meia noite a rondar por ali (a dizer bem e a dizer mal) e ver cafés abertos e bem iluminados. Senti-me seguro pela primeira vez na baixa do Porto.
Devo admitir que prefiro a nova avenida à noite.. realçam-se os pormenores, os edifícios, os néons das lojas e cafés.. dão um carácter cinematográfico num tom de film noir. Só imaginava um filme com alguém numa cabine telefónica vermelha às 2 da manhã, a fazer uma chamada a dizer ao dealer para ir trocar a mercadoria em frente à fonte, e que estaria sentado no grupo das 3 cadeiras do lado direito para quem vem da praça da liberdade.
Mas adiante, as pessoas criticavam o facto da fonte não ter "vida", não ter um chafariz, ser só uma corrente calma que vai descendo os degraus.. Eu achei uma descida serena, sem pressas, sem espalhafatos, nem piroctecnias. Se houvesse muita pressão, na se veria o reflexo da câmara no espelho d'água... (cujo objectivo pressinto que seja esse). Mas são opiniões pessoais.
Resumindo, senti que o centro cresceu, adquiriu uma maturidade. As coisas tão dispostas com seriedade e funcionalidade. O Porto cresceu. Gostei muito do facto de haver bancos espalhados em grupos cuja posição pode ser modificada por estarem presos por um cadeado comprido. Só tenho que daqui a umas semanas estejam todos vandalizados/roubados.
Passei ainda pelo jardim do Marquês, e sinceramente, de dia dever ser muito bonito. Mas de noite é assombroso. Tinha iluminação, mas as árvores gigantes, e os jardins contrariavam os planos claros que a luz projectava, fundindo-se num conjunto soturno. Dei graças por na haver jardins na Avenida dos Aliados.
À vinda para casa dei conta que a nossa cidade evoluiu bastante nos últimos anos. Reparem: - A linha do metro que em 5 anos de construções sensivelmente, fez surgir uma rede de RAÍZ e considerada uma das mais bonitas e seguras da Europa;
- As estações subterrâneas que foram criadas, incluíndo arranjos urbanísticos: a linha amarela toda (que reconstruíu a Ponte D. Luís, estação do Marquês, Avenida dos Aliados, etc..)
- A construção da Casa da Música e reabilitação de toda a envolvente (rotunda da Boavista, e avenida da Boavista);
- a SRU na reabilitação de edíficios antigos da baixa;
- O estádio das Antas e toda a envolvente urbanística (alameda, zonas de lazer, acessos...) - Jardim do Carregal;
-Praça Carlos Alberto/Teatros
São algumas obras que surgiram nestes últimos anos, que quanto a mim concluíram-se rapidamente. Claro que falta o Túnel de Ceuta (quase quase) e toda a zona da estação de S. Bento.
Lamento que a Casa da Música tenha perdido algum protagonismo. Era um medo que se receava desde o início... e que veio comprovar-se. A falta de programação e o facto de ser um espaço virado exclusivamente para a Música faz com que perca bastante noutros termos culturais. Quando me falam em concertos no Porto, eu associo logo ao Coliseu, ou Rivoli. Nunca Casa da Música. Tenho pena que a sua polivalência não seja aproveitada também para teatros por exemplo..
Há uma linha no Porto que define dois espaços (de um modo geral). A VCI divide a zona do comércio e ceontro histórico, da habitação e lazer. De um lado temo a baixa e toda a zona ribeirinha que deverá surgir com um carácter (ou pelo menos, eu gostaria) de convívio, comércio, restauração, cultura (podiam abrir uns cinemas...), enquanto para o outro lado da VCI, teríamos as "escapadinhas" de fim-de-semana, junto ao mar, pela foz, parque da cidade, com a maioria das habitações a surgirem desse lado. Eu vejo o Porto assim.
Eliminar de vez os shoppings (ou a sua afluência) da periferia e reavivar o comércio tradicional na nossa cidade do PORTO. A zona ribeirinha já tem lojas especializadas (calçado, roupa). Só faltam surgir mais cafés, galerias (que também estão a nascer).
O PORTO é uma cidade de Artistas! Nela nasceram nomes como Agustina Bessa-Luís, Manoel de Oliveira, Álvaro Siza Vieira, personalidades reconhecidas internacionalmente. A sua cidade-origem tem de mostar que vale isso.
Lisboa é merda e acabou.
Nós somos o motor de avanço deste país. O Norte (como se dizia na conferência do 10 de Junho na Alfândega) é a região trabalhadora.
Temos de ter orgulho na nossa cidade!
AME o PORTO! Para que possa ir lá fora e dizer "A minha cidade é mais bonita, ou é tão evoluída como esta"..
Até dos GUNAS gosto!
Parabéns Porto. Fiquem bem e bons projectos para o futuro.

Sunday, June 04, 2006

AMAR a baixa


Antes de mais, quero dizer que nunca me esqueci deste blog, simplesmente estou a tentar arranjar maneira de o controlar..
De qualquer maneira, a pedido de várias famílias, tive de postar qualquer coisa.
Tenho de admitir que o que estou a postar foge um pouco do que eu inicialmente previ para este blog (exposição de projectos meus), mas esta opção de também dar a minha opinião sobre arquitectura é igualmente interessante para um possível debate. Ainda me sinto "caloiro", porque o 2º ano de arquitectura não equivale a nada.. ainda tenho muito para aprender.. mas com os conhecimentos que tenho ganho até agora é possível fazer uma crítica construtiva ao tema que mais curiosidade me suscitou nos últimos meses: a requalificação da Avenida dos Aliados, e do qual fiz em trabalho de grupo um documentário.
Foi um projecto que acompanhei quase do início, e que agora se encontra na recta final, preparado para a inauguração (10 de Junho, penso eu).

No início (estava eu acabar o 1º ano da faculdade), quando o projecto veio a público, disse logo que não gostava. Uma opinião precipitada, cm é óbvio. Mais tarde, quando surgiu uma informação MAIS detalhada, percebi que: Iam retirar a calçada à portugues e os canteiros;alargar os passeios por causa das bocas de acesso ao metro do Porto; reposição da iluminação antiga, e em maior quantidade; existência de uma fonte da autoria de Siza Vieira.
Começaram a surgir as polémicas.
Comecei a ficar mais atento..

Afinal, o que é a Avenida dos Aliados?
Eu sempre a conheci como sendo o palco de manifestações, de congratulações e de festa; ponto de referência para a gente tripeira.
O Centro.
Lembro-me que no primeiro trabalho do 1º ano (fazer uma cidade, definir ruas e praças), eu fiz uma Avenida dos Aliados (inconscientemente). A prof. disse que a Avenida dos Aliados era o pior exemplo de uma "praça" ou "avenida" exactamente por causa desta ambiguidade. A Avenida dos Aliados é uma praça (onde as pessoas "vivem" as manifestações? Ou uma Avenida para os carros com uns jardins no meio que definem percursos sinuosos? O problema da Avenida foi esta ambiguidade que agora procura eliminar num projecto da autoria dos Arqs. Souto de Moura e Álvaro Siza Vieira.

EA verdade é que a avenida é agora um verdadeiro palco de recepção, o "salão nobre", o "vazio para ser preenchido". Os canteiros conferiam uma certa beleza, é verdade.. mas como dizia um motorista da STCP no documentário: "Quem quer verde que vá procurá-lo, não é no meio da cidade que ele vai estar".

As praças em Lyon não têm verde. Têm árvores que dão sombra, e o chão é liberto de qualquer canteiro, onde as pessoas podem andar livremente sem nenhum obstáculo.
O que a nova avenida faz é precisamente isso: libertar o solo para um espaço digno do conceito de praça.

A única coisa que lamento é a continuidade da circulação automóvel.. por que de resto,
gosto muito da nova Avenida, vai de encontro ao significado que a população deu àquele espaço, e com a nova iluminação está a tornar-se num "mimo" e digna de uma cidade moderna.
A nova fonte, que tentei desenhar está alinhada com a estátua de Garrett e acredito que vá ser a nova cara dos Postais da cidade. E acreditem que fica muito bem.

A nova Avenida está dividida em três espaços: a seguir à praça da liberdade está implantada uma alameda que define o conceito de avenida naquele segmento dos Aliados. A seguir, uma praça aberta, livre, e no remate desta placa central, temos uma fonte rodeada de árvores. Um novo espaço de estar em substituição dos canteiros, que quanto a mim é bem melhor.. Os canteiros eram "prós bêbedos se deitar" ou "para as pombinhas irem lá e estragarem tudo", citando duas entrevistadas..
A avenida ao longo do tempo foi alvo de diversas remodelações. Esta é mais uma. E a única que quer recuperar o projecto inicial da Avenida dos Aliados.
Um conselho: Eu sei que nós portugueses somos avessos às mudanças, mas mais vale esperar para ver e depois opinar do que ser tão quadrado. A não ser que estejam dentro do assunto..
É normal uma pessoa criticar, mas também deixar o benefício da dúvida.
Olhem o Código Da Vinci.. Meu deus... Eu dizia que devia ser excelente, e que bela merda que saíu.
Fiquem bem, e AMEM a baixa!